A sociedade menos desinformada usa frequentemente a frase: só se fica rico por meios inadequados.

 

Sempre que nos deparamos com pessoas mais abastardas financeiramente, com um negócio que fez sucesso de forma inesperada e repentina ou que, assim que terminou um curso superior obteve êxito mais rápido que os colegas de faculdade ou pessoas e parentes da mesma idade, ouvimos logo a frase: algo deve estar errado, com certeza estão fazendo alguma coisa de errado ou “tem rolo nisso”. Ah! Pode ser que tenha se casado com um homem ou mulher mais velho e por isso está bem financeiramente, com certeza não é mérito próprio.
Inicialmente, essas pessoas que contam com um pouco mais de sorte na vida ou que se esforçam mais que os outros, se sentem revoltadas, tentando explicar cada centavo que se ganhou e como se ganhou, mas com o passar dos anos nota-se que de nada adianta explicações, elas entrarão por um ouvido e sairão por outro, pois o ouvinte não quer ouvir a verdade e continuarão falando e julgando a vida alheia; e a cada nova explicação que lhes for dada, uma nova idéia louca será inventada.
Isso acontece por quê? Primeiro vamos analisar o lado daqueles que falam ou duvidam da capacidade intelectual, financeira ou até mesmo de uma pitada de sorte do parente, amigo ou conhecido mais abastardo financeiramente. Essas pessoas na verdade são frustradas profissionalmente, pois não tiveram a mesma garra que o outro ou não tiveram a coragem de ousar, apostar tudo que tinham num determinado negócio e preferem viver de modo que se sintam mais acomodadas.
Já as vítimas do falatório, ou seja, aquelas que ficaram ricas “de repente” estavam trabalhando enquanto seus concorrentes dormiam, batiam papo, tomavam sua cerveja, curtiam o final de semana, tiravam férias ou até mesmo se sentavam para falar da vida alheia. Então é lógico que estas pessoas que dão o seu suor em sentido figurado, ou seja, que dão duro na carreira e na vida têm a chance de se saírem melhor financeiramente, é uma questão de pura lógica.
É ridículo comparar um cortador de cana com um médico. O médico pode trabalhar 6 horas por dia e obviamente vai ganhar inúmeras vezes mais que o coitado que fica exposto ao sol, calor e riscos de ser cortado por uma foice, mesmo que trabalhe até à exaustão, ou seja, mesmo que trabalhe as vinte e quatro horas do dia, o que é impossível, mas mesmo se o fosse, ele ainda ganharia menos que o médico. Temos funcionários públicos que constroem casas lindas às duras penas, economizando cada centavo, enquanto seu colega de trabalho gasta tudo que recebe com roupas, passeios e leva uma vida boêmia, nessa comparação, o funcionário que conta seus centavos, que deixa de tomar uma cerveja estaria “fazendo algum rolo”? Óbvio que não, apenas foi mais inteligente que o colega. Já a comparação do cortador de cana com o médico, por mais que o médico gaste ou que o outro economize sempre haverá uma vantagem sobre o lado financeiro do médico. Mas ninguém analisa os anos que ele passou numa faculdade, somados aos anos antes de conseguir entrar nessa faculdade e o tempo que teve que ralar depois de formado.
Oportunidade tem para todos, não é demagogia, mas encarar madrugadas de estudo ou trabalho é questão de escolha. E é possivelmente ficar rico sem tomar algo de outrem, sem ter que entrar por caminhos errados e sem fazer os tais rolos, como dizem o povão.
Assim, para terminar fica a frase da admirável Clarice Lispector: “Antes de julgar a minha vida ou o meu caráter... calce os meus sapatos e percorra o caminho que eu percorri, viva as minhas tristezas, as minhas dúvidas e as minhas alegrias. Percorra os anos que eu percorri, tropece onde eu tropecei e levante-se assim como eu fiz. E então, só aí poderás julgar. Cada um tem a sua própria história. Não compare a sua vida com a dos outros. Você não sabe como foi o caminho que eles tiveram que trilhar na vida."