Quando vale a pena voltar...

   Escrevi um artigo que comentava até quando um casamento valia a pena. Entre inúmeras situações escrevi sobre o próprio tempo que o casal encontra-se unido; a saída dos filhos da casa dos pais, conhecida como a síndrome do ninho vazio; a rotina e o passar do tempo, que faz com que acabemos nos acostumando com aquela pessoa, aquele ser e deixamos as qualidades ofuscadas e os defeitos passam a ser vistos de uma forma mais exagerada. Ao final daquele artigo, sugeria ao casal as duas saídas mais conhecidas: reinventar o amor, esquecendo assim os erros das partes, e passando a enxergar mais as qualidades, ou enfrentar a tão evitada, sofrida e dolorida separação. Para muitas pessoas, quando o casamento está com a “corda no pescoço”, seja por dívidas, a chegada de uma terceira pessoa, vícios reiterados e não tratados, o amor que se transforma em amizade, o ninho vazio com a saída dos filhos, a própria aposentadoria que faz com que o casal permaneça mais tempo juntos e inúmeros outros motivos, chega um momento explosivo onde a pessoa resolve enfrentar a separação e “chutar literalmente o balde”: sai da sua casa e do seu amado lar.

   Porém, após os primeiros meses fora do lar ou ausente da vida daquela pessoa que te acompanhou por anos, daquela pessoa que na maioria das vezes te conhece mais que muitos dos seus amigos e parentes, um enorme dilema toma conta da sua vida e dos seus pensamentos: Eu realmente deveria ter me separado? E se eu tivesse ficado? E se tivesse tentado mais uma vez ou se tivesse feito desta última tentativa tudo diferente?

   E são esses “SES...” que invadem e confundem nossos sentimentos, tornando-se pesos em nossas vidas e chegando ao ponto de nos tirar da posição de vítimas, para vilões covardes. Os papéis se invertem em nossas mentes, tudo por causa do famoso e perturbador “se”.

   Nesse momento em que pensamentos apoderarem-se da nossa mente, o ideal é largar os “ses” de lado, as culpas, as mágoas, as lágrimas e, pensar usando somente a razão, tentando responder de forma natural, para você mesmo, a seguinte pergunta: Saí de casa porque coloquei meu casamento na balança e ele não passou? Ou seja, os defeitos e tristezas pesaram mais que as qualidades e alegrias na maioria dos dias? Como tem sido meus dias, minhas tardes e noites? Estou conseguindo dormir por medo do novo lugar, situação e de um futuro incerto, mas tranquilo ou minha insônia se dá em razão da saudade? Estou me sentindo mais leve, mais livre e feliz? Tenho visitado pessoas que não via há muito tempo e me sentido feliz, ou essas visitas são somente para falar da minha separação e o quão me deixou infeliz? Tenho notado que me pego rindo à toa ou chorando? Tenho vontade de sair com amigos ou prefiro a cama solitária? Minha aparência mudou para melhor? Como me vejo hoje no espelho: Uma pessoa mais feliz e bonita ou o contrário?

   Parecem perguntas bobas, mas não são. São por meio de perguntas assim que somente você que se separou poderá responder a você mesmo com toda a sinceridade. E são as respostas destas perguntas que vai te dizer se vale a pena voltar... Pois essa decisão deve ser fria, solitária, sem sentimentos e ressentimentos, de forma clara e objetiva e, respondida por você e para você. Lembrando que uma volta errada pode lhe trazer mais problemas que antes, mas o erro de não voltar quando esta é a decisão mais acertada, pode lhe gerar arrependimentos por toda uma vida ou grande parte do que resta dela.

   Como disse Arnaldo Jabor: “Hoje em dia o divórcio é inevitável, não dá para escapar. Ninguém aguenta conviver com a mesma pessoa por uma eternidade. Eu, na realidade já estou em meu terceiro casamento – a única diferença é que casei três vezes com a mesma mulher. Minha esposa, se não me engano está em seu quinto, porque ela pensou em pegar as malas mais vezes que eu... Vamos ser honestos: ninguém aguenta a mesma mulher ou o mesmo marido por trinta anos com a mesma roupa, o mesmo batom, com os mesmos amigos, com as mesmas piadas. Muitas vezes não é a sua esposa que está ficando chata e mofada, é você, são seus próprios móveis com a mesma desbotada decoração. Se você se divorciasse, certamente trocaria tudo, que é justamente um dos prazeres da separação... Isso obviamente custa caro e muitas uniões se esfacelam porque o casal se recusa a pagar esses pequenos custos necessários para renovar um casamento. Mas se você se separar, sua nova esposa vai querer novos filhos, novos móveis, novas roupas e você ainda terá a pensão dos filhos do casamento anterior.”